Monday, February 25, 2008

Levanta-se o véu...

Hoje, por volta das 14:45, aqui nos claustros do Colégio das Artes, despoletado por não sei que estímulo exterior ou interior, tive a sensação de que o lado de lá está próximo...de que a minha viagem vai mesmo acontecer, tem de acontecer e não há nada que me fará ficar para trás.

Não sem cenas recambulescas, claro...a minha falta de organização dá sempre azo à confusão desde o momento em que saio de casa com as malas. Por falar em malas...já sinto o bichinho a morder para fazê-las...mas tradição é tradição! serão feitas na madrugada da véspera da jornada.

Levanta-se o véu sobre a minha viagem. Assim, será um autocarro até Lisboa, um Tap até Heathrow, um Jetairways até Delhi e lá, provavelmente, um estudante com um pedaço de cartão a dizer o meu nome por entre a confusão.

E mais não digo, apenas antecipo, porque prever o futuro por escrito dá azar e:

"You, actors in my play,
Jumble my cues
And upset my plans"

Friday, February 22, 2008

Mais do mesmo...não dá pra resistir

Poison

"I'm all alone
I smoke my friends down to the filter
But I feel much cleaner after it rains."

Tom Waits / Kathleen Brennan, 2006

Thursday, February 21, 2008

O Pagode de Alexandra

Alexandra chama as coisas que desconhece "pagode". Quando, há poucos dias, esteve cá o A. e me pediu para o levar ao quarto de banho, pois quis fazer xixi, Alexandra seguiu-nos aos saltinhos. Olhou com interesse o "fazer xixi". Depois eu perguntei-lhe se não precisava também de fazer o mesmo. Ao que ela disse: "Não posso, mãezinha". "Mas por que é que não podes?", perguntei. "Não tenho assim um pagode como o A.", respondeu.

Ilse Losa, Ditos da Alexandra em 1941-42 [manuscrito]

Wednesday, February 20, 2008

Cismar

"Ele faz-me muita falta..." dizia com a voz a fraquejar, quase como se uma faca cortasse o som à medida que este passava a garganta, a boca e se transformava em linguagem.
Começou a soluçar baixinho..."Sabes, ele dizia-me, 'oh M., tem paciência mas tens de ficar a tomar conta dos netos'...mas, sabes, não quero, só quero ir também.." e soluçou mais...baixinho.

Arregaçou a manga da camisola e mostrou-me o antebraço - estava com feridas abertas, outras com crosta, arranhões e cicatrizes...parecia um campo de batalha epidérmico.
"À noite não consigo dormir e começo a cismar, a cismar e depois estou sempre a coçar..."

Friday, February 15, 2008

Citação

"Esta chamada ao presente da epopeia da ocupação, pelos portugueses, de terras longínquas, pode servir para se reflectir um pouco sobre a forma de se estar no mundo, não na trilha do patrioteirismo mas na trilha da civilidade a construir e em construção.

Tenho sobre a arquitectura uma forte convicção de que ela favorece uma abordagem da sociedade, intregadora de várias facetas, numa clara citação de ideias, que instiga a imaginação criadora, que vasculha tudo para além do epidérmico."

Acácio Barata Lima, Fevereiro 2008

Thursday, February 14, 2008

"O livro sagrado de PVG" e comment

O livro sagrado
13.02.2008, Paulo Varela Gomes
"Num dia de Setembro passado, no final da monção de Sudoeste, com a praia entregue a passeantes solitários e a uma feliz manada de vacas, estava uma turista europeia sozinha num canto de uma esplanada no extremo sul de Goa, precariamente sentada entre as cadeiras de plástico ainda empilhadas debaixo de uma protecção contra a chuva. Lia o guia de viagem Lonely Planet, edição do Sul da Índia 2007, que acabava de ser publicado. Na esplanada, não havia mais ninguém, nem aliás na aldeia, com quase todos os pequenos hotéis e bares de praia fechados. O Ivan Nunes costuma chamar "Holy Book" ao Lonely Planet pelo modo como, na Índia, e provavelmente em muitos outros lugares, os turistas seguem religiosamente todos os conselhos dos autores em matéria de lugares a visitar, restaurantes onde comer, sítios onde dormir. Pedi o livro e abri-o na esperança de que a praia onde estávamos naquele instante não constasse no índice. Mas, se fosse esse o caso, é provável que a turista solitária não estivesse ali. De facto, o "Livro Sagrado" dizia: a praia tal-e-tal é a "jóia escondida do Sul de Goa". Caiu-me a alma aos pés. Não foi preciso passar muito tempo. Em Novembro, começaram a abrir os albergues e os bares e agora, em finais de Fevereiro e da estação turística, a catástrofe está consumada: pela aldeia, circulam motos e carros, trazendo curiosos à procura de turistas ocidentais exóticos que, de facto, enchem as esplanadas. Há barracas de venda de comidas típicas de todos os lugares ao mesmo tempo e artesanato genuíno igual em toda a parte. Não está ainda tudo como em Palolem, durante muitos anos o paraíso do Sul de Goa, onde os hippies iam fumar ganzas ao pôr-do-sol sobre o mar e todas as outras pessoas iam olhar para eles. Palolem é hoje um centro comercial em que se passeia no meio do lixo, na praia e fora da praia, entre o sorriso alarve dos turistas que, como quaisquer pessoas modernas, não têm memória e nunca viram mais nada e o sorriso imbecil dos locais que, igualmente modernos, acham que estão a ganhar muito dinheiro com a lixeira que criaram (e estão). O "Holy Book" e os outros guias turísticos, aliás, assumem a atitude moderna por excelência: consideram todos os lugares do mesmo modo e todos dignos de um conhecimento devorador - nada deve ou pode ficar por divulgar. Bares, restaurantes, monumentos, bibliotecas, discotecas, paisagens e miragens são medidos numa tabela de 1 a 5 ou, melhor ainda, numa tabela de preços, esse igualitarismo da diferença capitalista que é a medida das coisas modernas. Para um guia turístico, o horizonte do homem é o turismo, ou seja, o desenraízamento colectivo. Uma praia é uma praia, é uma praia, não pertence a ninguém, pertencendo a todos. Quanto aos chosen few que se enraízaram numa qualquer particular praia (ou casa, tradição, história), façam como qualquer vítima da modernidade: mudem-se ou resignem-se.Fica o aviso oficial: em Goa, já só há duas ou três praias decentes e não figuram no "Livro Sagrado". O resto são praias modernas. "

Lembro-me que um dos pontos altos do périplo que efectuei com 3 amigos em Outubro de 2003 pelo sul da Índia, entre Kerala e Tamil-nad, foi o momento em que ficámos apeados numa estação de fim-de-linha sobre os Gates...a pequena cidade não vinha na Bíblia e ficámos naturalmente desnorteados...mas aquela sensação de estar a saír do circuito turístico e dos locais mencionados na Bíblia foi deliciosa. Acabámos por entrar numa camioneta sem saber bem para onde estávamos a ir, apenas com a ideia vaga que iríamos para uma cidade maior.

Wednesday, February 13, 2008

New Age

Monday, February 11, 2008

Phish 1998-10-31Oh! Sweet Nuthin

Morgenland / Abendland

Certa vez perguntaram-me: "como é a Lua na Índia...é diferente?..."

Na altura não soube responder, talvez pelo facto dos meus pensamentos estarem deste lado e não daquele...

Agora lembro-me que a Lua lá parece mais quente, talvez pelo clima ser mais quante...também parece maior, mais próxima...em noites de muito calor, parece suar sobre uma uma cama de carvões em brasa.

A cor lembra um gelado de baunilha, às vezes um leite creme torrado...

Sim...a Lua na Índia é mais doce.

Saturday, February 09, 2008

Friday, February 08, 2008

"Esta grande chatice" de PVG e comment

Esta grande chatice
06.02.2008,
Paulo Varela Gomes
"Às vezes são crianças pedintes, outras vezes cães abandonados ou vadios. Os miúdos batem-nos à janela do carro num semáforo e tentam vender-nos uma revista ou lavar-nos o pára-brisas. Há aqueles que sorriem com uma escandalosa alegria. Outros olham para nós sem perdão. As raparigas trazem quase sempre uma criança mais pequena ao colo e têm já a indiferença magoada de quem foi condenado a uma pena perpétua. Os cães que passam, aquele desesperado para aqui e para ali à procura do dono que fugiu talvez há muito tempo, o outro, vagaroso, cheio de dores, em busca de um sítio onde morrer em silêncio, olham através de nós para a vida que nunca tiveram. Têm cores pardas e vivem nos cruzamentos. Reconhecemos nos olhos das crianças e dos cães coisas que já sentimos ou podíamos sentir: cansaço, desorientação, ansiedade, uma indiferença calcinada. Temos mais dificuldade em perceber o que sentem outros habitantes infelizes da cidade: os pássaros assustados que voam entre a rua e os seus ninhos precários nos terraços, os pombos sujos das sarjetas, os ratos que se esgueiram furtivamente entre caixotes de papelão para levar comida aos filhos. De entre todos, só as crianças e os cães têm olhos que podem fazer baixar os nossos. Estamos imunizados em relação aos pedintes adultos da espécie humana. Há muito tempo que são precisos efeitos especiais para que suscitem a nossa atenção, para já não falar da nossa piedade: malformações genéticas ou auto-infligidas, vestígios de doenças, o pequeno cartaz ou panfleto explicativo com referência a tragédias pessoais ou colectivas. As crianças e os cães, todavia, não conseguem articular o seu desespero em forma de um discurso qualquer que o torne suportável para eles e para nós: o pedido de auxílio, o protesto, o insulto. Essa inocência ou silêncio torna mais difícil - muito mais difícil - o nosso encontro com a miúda dobrada ao peso sufocante de seis anos de miséria, ou o cão que não consegue compreender, no barulho infernal da rua, porque é que ninguém lhe faz uma festa.Uma vez no Rio de Janeiro passei por um miudito deitado numa sarjeta seca de uma curva muito apertada. Os carros passavam-lhe as rodas rente à cabeça, um após outro. Ninguém fazia menção de parar. Dobrei-me para ele e reparei que chorava convulsivamente. Tirei-o da rua a custo. O patrão tinha-o mandado fazer um pagamento mas tinha sido assaltado. Estava ali à mercê da sorte. Não sabia se queria morrer mas também não sabia como continuar a viver. Às vezes gostaria de andar com uma camioneta muito grande a recolher todas as crianças, cães e outros seres vivos vadios que não sabem falar. Depois levava-os todos para as Maldivas, os Açores, ou Madagáscar que sempre é maior, e deixava-os à solta sem trabalho nem escola, sem horários e sem regras de trânsito, sem donos e sem patrões, para que andassem no mar e nos bosques. Fá-lo-ia apesar de saber que um dia alguma coisa haveria de correr drasticamente mal e Deus teria de correr com eles, recomeçando esta grande chatice toda outra vez."

PVG diz as coisas à medida que estas lhe assaltam a alma. Aquilo que a maioria de nós não diz - com medo de sermos mal interpretados, polémicos ou simplesmente porque não nos parece bem - PVG diz e surge a pedrada no charco. PVG mete no mesmo saco as crianças e os cães esfarrapados. Pessoalmente, talvez por nunca ter sido pai, por nunca ter sentido na pele a dor ou o amor incondicional de uma criança, sempre me fez mais confusão os cães vadios do que as crinaças. Para mim, as crianças pedintes são tão inocentes como os pais pedintes. São pedintes, pedem, vivem o dia-a-dia no limiar da existência. O que distingue, para mim, as crianças dos pais pedintes não é a inocência. Essa, se é que existe entres os intocáveis na Índia, perde-se aos 2, 3 anos. O que distingue é a raiva. A raiva que cresce e instala-se e afasta a humanidade do olhar, dando lugar ao de uma animal domado à força da dor, do sofrimento, dos pontapés e da comida podre, da rejeicção mais completa e hedionda dos seu semelhante. É a ausência de raiva no olhar das crianças que me deixa desconcentrado. Quanto aos cães vadios, simplesmente não entendo porque é que não os esterilizam.

Thursday, February 07, 2008

no 207...

É curioso como os filhos acabam muitas vezes por imitar os pais quando tentam, ostensivamente, efectuar afirmações de autonomia, ruptura ou revolta. Há alguns anos, nos autocarros, era normal ver-se os velhotes com um rádiozinho a pilhas encostado ao ouvido, a ouvir faduncho ou o relato. Hoje-em-dia, são os miúdos que espalham os sons do hip-hop a partir dos telemóveis de 3ª geração.

Tuesday, February 05, 2008

Tom Waits, three songs, 1980

versão fantástica do Heartattack and Vine

Acho que...

Acho que esta cena se vai aproximar ao diário nos tempos que se aproximam...

Foi assim...

Sábado (Porto)
Disfarcei-me de teatro. Ponto alto da noite: quando tirei o teatro da cabeça.

Segunda (Coimbra)
Parasitei daqui e dacolá. Jantei com um amigo que já não via há muito e saí com outro que, apesar de tudo, vou vendo. Roteiro: Zé manuel dos ossos; Indo-paquistanês; Quebra; Shmoo; Salão Brasil; operação stop da PSP na Praça da Républica ("sopra devagar, Rui, a medo"); e Patelas. Ponto alto da noite: ver o dia nascer no terraço do Patelas...