Lembro-me que eram ritmos bem diferentes - o meu, de criança, e o dos meus avós, de refeições e chás e sestas e...de fazer tudo mais devagar.
Na Pasteleira, depois de voltar da escola, o tempo arrastava-se pelas cortinas (uma roxa, outra azul, outra amarela) media-se pelo imperceptível deslizar dos raios solares pelo soalho, ecoava nos sons vindo do rio que trepavam pela janela do sótão...onde me escondia entre livros enigmáticos.
Nessas alturas, aprendi a dar valor ao tempo que passava comigo próprio. Estava em casa dos meu avós mas não convivia muito com eles, para além das refeições - apressadas da minha parte - e do chá das 5.
De passagem, recordo-me de cinco memórias do meu avô.
Primeira: A seguir ao almoço, a espalhar as migalhas recolhidas da mesa e das latas das bolachas sobre a guarda de madeira da varanda.
Segunda: Ao entardecer, se eu estivesse sentado a ler numa das poltronas da sala, a passar por mim e ligar o candeeiro mais próximo (dizendo algo do género "...ler às escuras estraga a visão...")
Terceira: De manhã, o som da máquina de barbear a aparar, pacientemente, pêlos brancos numa pele flácida.
Quarta: O meu avô a conduzir o Sunbeam de luvas, quando eu estava cheio de calor e a suar.
Quinta: Quando era ainda mais novo, o chá das cinco era por vezes substituído por um lanche a sério no Orfeuzinho. Entre os velhotes amigos do meu avô, tenho impressão que me lembro de um "Soares", talvez "engenheiro Soares". Invariavelmente, o meu avô consumia um galão...por vezes uma torrada.
Saturday, November 22, 2008
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