Fechei o escritório no sábado à tarde e embarquei para o Porto.
Sábado à tarde é também a altura quando os reformados vão jogar cartas e beber tintol. Em grupos animados, circulam pelos diversos transportes públicos...ao meu lado, ouvia a seguinte conversa:
- Mas olhe que eu já fui chefe de estação! Portanto sou seu superior...
- Chefe de estação?
- Sim senhor, chefe de estação!
- Em que estações é que você foi chefe?
- Fui chefe de quatro estações!
- Ah é? então diga lá!
- Fui chefe da Primavera, do Verão...
Seguiram-se uns risos de aprovação...
No Porto, o autocarro que abordei para me levar a casa avariou passado duas paragens. Ia completamente cheio, incluíndo cinco carrinhos de bebé. Durante o transbordo para outro autocarro, gerou-se uma animada confusão porque havia cerca de dez pessoas com bebés ao colo...e apenas seis lugares reservados para esses grupo de utilizadores...para agravar a situação, vários velhotes sofriam de incontinência...enfim, o odor a vinho, a urina ressequida em fraldas e aos diversos produtos empregues para os disfarçar adensava a atmosfera já de si carregada.
Domingo regressei para Aveiro. Cheguei cedo a S. Bento e decidi esperar dentro do comboio, praticamente vazio. Comecei a ler...passados alguns minutos ouço o som de um homem a arrastar-se numas muletas. Quando o vulto se aproxima de mim (depois de ter percorrido metade do comprimento do comboio), senta-se e olha para mim com olhos esbugalhados...contrariado, encaro-o:
- Dizem que eu tenho uma doença...
- [...]
- Dizem que é nê-neurológica...
- [...]
- Dizem...dizem, eles é que dizem...
Era um homem novo, vinte e poucos anos, bastante deformado e aleijado, vestido de forma incongruente. Barriquei-me por detrás do meu livro, tentei não dar importância ao caso. Felizmente, o doente levantou-se e foi para a outra ponta do comboio, onde estava sentado outra pessoa.
Pousei o livro. Fiz a viagem ansioso por chegar ao destino.
Sunday, May 27, 2007
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